sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Contigo

Abraça-me forte e dita-me palavras
Que mostro-te um mundo
que nem eu mesmo conheço.
Pois estar contigo
já abre-me um sorriso profundo.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tortura

Sentados a mesa. Toalha de seda. Descansos para copo de cetim. Talheres finos e louça importada. Roupas finas. Tudo inútil! Ela tamborilava os quatro dedos na mesa, esperando uma palavra minha. Seu olhar me cortava como uma navalha afiada e enferrujada. Sua respiração era o oposto da minha, calma e frequente. O suor escorria no meu peito por de baixo de meu paletó francês. Me segurava a cada segundo para não sair nenhum ruído de minha boca.
Ela parou de movimentar os dedos. Contraiu levemente seus olhos e mordeu seu lábio inferior. Um silêncio corrosivo, cruel, viríl, torturante me destruía lentamente. O que ela queria?
-Desisto! -Quebrei o silêncio repentinamente.
-Já não era sem tempo. - Respondeu ela cruelmente e de um frieza calma e surpreendente- Ambos sabíamos que não duraria muito neste estado.
-Do que falas?
-Não seja tolo. Você sabe muito bem.- Respondendo de imediato e soltando seu cabelo avermelhado.
-Do que se trata?
-Estou terminando.
Foi o dialogo mais curto de todos os que já tive com ela. Cansara de ficar em silêncio, mas daria tudo para não ter desistido e continuado na minha tortura silenciosa. Dolorosa, mas satisfatória. Melhor seu silêncio torturante, do que sua ausência bondosa. Poderia ter relutado. Ao invés disso, calei-me.
Ela se levantou, virou de costas e foi embora.
Partiu sem ao menos dizer adeus. Agora ali estava eu, com toda a beleza inútil das coisas.
Vazio... vazio... vazio...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Diário de bordo

Diário de bordo 15 de Agosto de 1475,
Por hoje, desejo passar a noite aqui, debaixo de meu cobertor, com meu pequeno caderno, meu lampião e meu canto na barraca. Mesmo com essa música instigante e toda essa comida que esta acontecendo la fora desejo ficar deitado aqui, onde ninguém irá me perturbar.
Já vieram algumas damas negras - Não acho correto chama-las de escravas se não usufruo dos tais serviços promíscuos prestados- vieram perguntar se estava deitado por algum problema ou se desejava satisfazer-me com elas. Recusei todas. Meu coração pertence a uma única dama, sei que ela esta me esperando.
Ela tinha cabelos pretos ondulados, trajava um vestido vermelho escarlate, e um batom cor de vinho. Uma beleza invejável. Provocou-me com seu sorriso para que dançasse com ela. Aquela dança foi gingada, foi sensual, foi meu tudo, e meu nada. Foi tão intensa que não sei se devo contar o que aconteceu em seguida da dança. Mas foi tudo no interior de uma das melhores casas de tango de toda a Espanha.
Estou apaixonado. Por uma mulher que nunca mais verei. Não a verei mais, pois ela me contara antes de eu partir que tinha uma doença mortal."Quando voltar talvez só poderá ver meu caixão."
Vi sereias parecidas com ela no meio do mar. Mas seus cantos não me atingiram. No fim, o que me atingiu foi a depressão. E amanhã parto em direção a nossa terra natal. Não sabemos se a comida que pegamos aqui é o suficiente, mas caso não seja, espero poder encontra-la em algum lugar.
Desejo-te uma boa noite, onde quer que esteja meu amor.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Eu a amei uma vez

Eu a amei uma vez. Talvez todos os abraços tivessem feito eu me sentir confortado. Afaguei meu rosto inúmeras vezes na a sua camisa com os olhos fechados. Você cobriu os olhos para que eu visse somente o belo. Seus olhares me mostravam a beleza da paixão.
Como disse Jeannete Whinterson em A paixão: A felicidade esta em algum lugar entre o medo e o sexo. Eu fui feliz ao seu lado. Compartilhamos risos, lágrimas e sonhos. E foi tudo muito bom, cada segundo era meu desejo estar ao seu lado.
Mas um belo dia tudo mudou. Você olhou para mim e não vi mas o brilho. Então ali sabia eu, acabou. "Podia ter sido melhor" você me disse... Agora estou aqui, trancado no meu quarto, esperando a campainha badalar novamente, para eu descer as minhas escadas correndo, abrir a porta e ver seu sorriso maravilhoso la.
É tudo em vão, você não volta, nem voltará. Hoje, para que você não descubra, evito-te secretamente esperando você sorrir novamente para mim. E eu poder dizer para todos: Eu a amei uma vez.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Promessa

Ele me prometeu flores, campos desabroxados lindos. Noites inesquecíves com jantares a luz de vela. Bardos tocando as mais belas músicas dos melhores cantores da temporada. Prometeu também que seria a melhor primavera de todas.
A guerra chegou e ele teve de partir. Permaneci inércio, sentado a beira do caiz junto aos barcos apodrecidos. Setessentos anos se passaram e ainda espero. Meu espirito gélido deseja secretamente que ele volte. Mas algo nesse vento de inverno sussurra nas minhas orelhas que ele não voltará, que ficarei aqui neste caiz até que o mar se congele e ele venha me buscar para então cumprir suas promessas impossíveis.