terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tortura

Sentados a mesa. Toalha de seda. Descansos para copo de cetim. Talheres finos e louça importada. Roupas finas. Tudo inútil! Ela tamborilava os quatro dedos na mesa, esperando uma palavra minha. Seu olhar me cortava como uma navalha afiada e enferrujada. Sua respiração era o oposto da minha, calma e frequente. O suor escorria no meu peito por de baixo de meu paletó francês. Me segurava a cada segundo para não sair nenhum ruído de minha boca.
Ela parou de movimentar os dedos. Contraiu levemente seus olhos e mordeu seu lábio inferior. Um silêncio corrosivo, cruel, viríl, torturante me destruía lentamente. O que ela queria?
-Desisto! -Quebrei o silêncio repentinamente.
-Já não era sem tempo. - Respondeu ela cruelmente e de um frieza calma e surpreendente- Ambos sabíamos que não duraria muito neste estado.
-Do que falas?
-Não seja tolo. Você sabe muito bem.- Respondendo de imediato e soltando seu cabelo avermelhado.
-Do que se trata?
-Estou terminando.
Foi o dialogo mais curto de todos os que já tive com ela. Cansara de ficar em silêncio, mas daria tudo para não ter desistido e continuado na minha tortura silenciosa. Dolorosa, mas satisfatória. Melhor seu silêncio torturante, do que sua ausência bondosa. Poderia ter relutado. Ao invés disso, calei-me.
Ela se levantou, virou de costas e foi embora.
Partiu sem ao menos dizer adeus. Agora ali estava eu, com toda a beleza inútil das coisas.
Vazio... vazio... vazio...

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